Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Diferentemente de nossas outras musas, Marcely, “A Comissionada da Prefeitura”, não será situada no espaço, mas apenas no tempo. Ocorre, tal qual mata-pasto, que Marcely dá em todo canto, na zona norte, sul, leste e oeste de Mossoró. Marcely tem 31 anos de idade, é formada em Turismo pela UERN e tem um filho, fruto de um conturbado relacionamento que não deixou saudades, mas pelo menos deixou pensão. É o que vale. Tem mais do que razão nesse ponto a Marcely.

Marcely trabalhou para o então prefeito durante o período eleitoral, inclusive chegou a perder um dos dentes da frente devido uma criminosa banda de tijolo atirada por um adversário. O prefeito pagou a prótese e ofereceu um clareamento, que ela não aceitou, alegando que quanto mais amarelos os dentes mais combinavam com as cores do partido. Marcely perdeu aproximadamente dez quilos durante o pleito eleitoral e mandou tatuar em itálico a expressão “BABO MEEERMO E SE ACHAR RUIM BABO MAIS!” na omoplata esquerda. O então candidato a prefeito comoveu-se com aquela abnegada correligionária e durante um dos comícios prometeu, cochichando em seu ouvido, que caso fosse eleito lhe daria um cargo na Secretaria de Cultura, onde sua única função seria despistar sequiosos artistas da terra com seus supostos e eternos cachês a receber.

Não pense o leitor mais açodado que Marcely era uma parasita, ao revés, ela já tivera inúmeras experiências profissionais, já trabalhara na Riachuelo, Mercadão das Malhas, Ótica Diniz e já até vendera produtos eróticos como calcinhas comestíveis sabor framboesa e réplicas do pênis de Marlon Brando. Acontece que o leitmotiv da vida de Marcely era o frenesi eleitoral, era algo tão forte nela que não raro só conseguia chegar ao orgasmo quando fechava os olhos e lembrava da expressão séria do prefeito em seus discursos. Aliás, um dos motivos que culminou no divórcio de Marcely com o pai de seu filho era o incomum hábito de durante o ato sexual gemer e pronunciar guturalmente as palavras “vai prefeito, vai prefeito, dá de cambão dá, vai, duas por uma vai…”.

No momento da apuração dos votos Marcely estava com o canal retal que não passava um filamento capilar. Acompanhou uma por uma das urnas apuradas com o ouvido colado no rádio, enquanto amaldiçoava Layre Neto e Bruno Barreto, que empolgados numa discussão qualquer esqueciam por um momento das urnas. Quando o resultado saiu foi a mesma emoção do pênalti perdido por Roberto Baggio, Marcely arrancou a roupa do corpo e desabou a pé para o Alto de São Manoel como veio ao mundo. Foi a apoteose.

Secretaria de Cultura, Marcely, bom dia – diz nossa musa com um falsete de seriedade na voz que estaria mais de acordo com a recepção de uma funerária que com uma secretaria municipal.

Em sua sala na Secretaria há uma fotografia do prefeito logo acima de sua cabeça, num dos vértices da moldura fitinhas do Senhor do Bonfim abençoam o gestor. A vida de Marcely mudou da água para o vinho desde que o prefeito cumpriu a promessa de campanha de lhe dar o cargo, ela renovou o guarda-roupa, pôs um megahair, financiou um novo Fiat e passou a ser frequentadora assídua de Guaramiranga, além de impressionante devoradora de fondue.

Era um dia quente e normal quando Marcely abriu a internet em seu Iphone para fazer o check-in diário na prefeitura para “lacrar o cu das recalcadas” quando uma chocante manchete apareceu diante de seus olhos: “Promotor pede cassação do Prefeito e realização de pleito suplementar”. Marcely desmaiou e precisou ser conduzida por populares até a UPA mais próxima.

Esse Promotor só pode ser mal comido, só pode, porque todo mundo tá careca de saber que em politica todo mundo rouba, quem não rouba termina doido que nem esse Cinquentinha, que é correndo atrás do povo e o povo “tangendo” de perto que nem um Cururu e uma Testemunha de Jeová… – dizia Marcely em conversa com amiga pelo telefone.

“Aí fica esse lote de puta e de viado com negócio de hastag de fora prefeito, doidos pra comer da boquinha, fora esses estudantes metidos a revolucionários. Ora revolucionários! São tudo é maconheiro, os bichos velhos chega são magros de fumar maconha…” continuava.

Pois é mulher… Mas ei… Ei… Perde não! O presidente do TRE é carne e unha com o Prefeito… Mas é mulher… Esse Promotor é mal comido… Essa aparente confiança de Marcely não passava de uma postura superficial, ela precisou de auxílio psicológico.
O prefeito foi efetivamente cassado por abuso de poder econômico e eleições suplementares foram realizadas. Marcely manteve-se no cargo já que aderira para a oposição três dias antes da eleição. Na outra semana substituiu a foto do antigo prefeito e em seu lugar pôs a da prefeita, mantendo as fitinhas do Senhor do Bonfim.

A única coisa que permanece inalterada, intrigando sexólogos e psicólogos nacionais e internacionais, é o fato de Marcely só conseguir atingir o orgasmo lembrando-se do rosto do ex-prefeito. O caso de Marcely rendeu inclusive uma inédita tese de doutorado defendida na UFRN, intitulada “Tara Comissionada: Interfaces do político e do erótico”.

*

*Samuel de Oliveira Paiva nasceu em 14/12/1992, é natural de Rafael Godeiro/RN. Bacharelando em Direito pela UERN, aprovado no XV Exame da OAB. Participou da coletânea “Poesia Clandestina Vol. I (2012)”, foi selecionado em concurso de contos promovido pela Big Time Editora, além de já ter contribuído com poesias, resenhas e contos para os jornais Clandestino, Gazeta do Oeste, O Mossoroense e revista Cruviana.

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3 respostas

  1. Com tanto vaso sanitário para sentar e cagar, ainda tem gente que insiste em cagar correndo e em círculos, o famoso ”cagar rodando”.

    Que mania feia e esquisita.

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