Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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A marchinha de carnaval O Teu Cabelo não Nega foi escrita em 1929 pelos irmãos pernambucanos João e Raul Valença. A letra e partitura foram enviadas para a gravadora Victor, no Rio de Janeiro, que pediu ao cantor e compositor Lamartine Babo para fazer algumas adaptações, dando-lhe um tom carioca. No disco, contudo, não apareceu o nome dos irmãos, o que ensejou uma ação judicial, onde eles ganharam em todas as instâncias.

Este pequeno preâmbulo serve apenas para situar o leitor no tempo. A questão que quero trazer é a proibição de tocarem algumas marchinhas em razão de, nos dias atuais, soarem como politicamente incorretas. Além da marchinha já mencionada, outras duas também estão na mira dos defensores das minorias: “Cabeleira do Zezé” e “Maria Sapatão”.

O movimento para excluir estas marchinhas da folia não estão partindo de nenhuma entidade pública, mas sim de dentro dos grandes blocos de carnaval do Rio de Janeiro e de outros estados. As discursões são internas e com viés político. Alguns blocos já decidiram por abolir as canções.

Vejam abaixo os primeiros versos de O Teu Cabelo não Nega:

O teu cabelo não nega Mulata / Porque és mulata na cor / Mas como a cor não pega

Mulata / Mulata quero o teu amor.

Como se vê, os versos acima são altamente preconceituosos e racistas. Hoje em dia ensejaria prisão. A cor morena, da mulata, é comparada a doença: “Como a cor não pega”.

Neste caso, sou um defensor intransigente da eliminação da marchinha, sobretudo quando houver dinheiro público empregado no evento.

No caso da Cabeleira do Zezé e de Maria Sapatão, não vejo nada demais, apenas brincam com os trejeitos de alguns bissexuais masculinos e femininos, respectivamente.

Por fim, não entendo, como em pleno Século XXI, há pessoas que julgam as outras pela quantia de melanina na pele, como se a definição de caráter e de retidão tivesse a ver com nossa cor. Entristeço-me quando vejo pessoas com formação desdenhar outrem simplesmente por esta ser negra. É a degradação da mente humana.

Há loiras lindas, há negras exuberantes, há mulatas com os lábios de mel.

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