Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Na quarta-feira pela manhã cruzei com o escritor Cid Augusto nos corredores do Mossoró West Shopping. Por puro esquecimento, deixei de parabenizá-lo pelo belo artigo que ele publicou n’O Mossoroense, edição do último domingo, com o título “Coice, Qualquer Jumento dá”, sobre jornalistas que se prestam unicamente a lançar desaforos em seus espaços. Já imprimi o artigo e o coloquei na minha pasta reservada para textos selecionados da net.

 

Leiam:

 

Costumo alertar, a quem perde tempo me dando ouvidos, para não confundir crítica e coice. Resgato a preocupação da oralidade, registrando-a neste inexpressivo Canto de Página, sem o menor desejo de bater de frente com jornalistas, blogueiros e outras personagens da mídia adeptas do chamado “estilo arrasa-quarteirão”. Não seria eu, um ignorante de carteirinha, o conselheiro de seu ninguém. As palavras, no entanto, não hei de negá-las por medo de polêmica, se precisam ser ditas.

 

A mídia é ambiente propício ao debate, ao conflito de juízos, à liberdade de expressão, aos embates da inteligência. Na era da Internet, o aparato tecnológico amplia o alcance das ideias. O pretenso formador de opinião, esteja no grande centro ou na pequena cidade, terá ao dispor instrumentos capazes de levar seus pontos de vista a quase todas as partes do planeta. O salto das tecnologias da comunicação parece haver transformado o tempo e o espaço em circunstâncias puramente virtuais.

 

Tais possibilidades encantam muito mais do que a letra estática na superfície do papel ou lançada, como se falava antes, no éter das ondas de rádio e de TV. Esse alumbramento é, de certo modo, perigoso. Ele rouba, não raro, o discernimento, a capacidade das pessoas perceberem, por exemplo, que o poder da informação é nada diante da responsabilidade da informação. Leva-as, também, a confundir o sacrossanto direito à liberdade de expressão com o deplorável exercício do insulto.

 

Li há poucas semanas que determinada figura criará um “blog jornalístico” destinado a bater, a esfolar, a trucidar, a não deixar pedra sobre pedra. Isso, francamente, é triste e não tem nada a ver com jornalismo. Aproveitar espaços democráticos para atacar a honra alheia com palavras de baixo calão, empreendendo perseguições medonhas, porque recebe dinheiro para o dito fim ou simplesmente porque não vai com a cara de um sujeito, fere a lei, o bom-senso e a inteligência dos leitores.

 

Criou-se em Mossoró a equivocada escola, segundo a qual bom comunicador é aquele que diz desaforos e acerta o alvo com as quatro patas. Ao longo dos anos, as vítimas se acumulam. Muitos espectadores, impulsionados por sentimentos doentios, aplaudem e estimulam o espetáculo de horrores, mas só até o dia em que também apanham ou veem pessoas queridas debaixo de vara, sem direito a se defender. Afinal, quem esperneia é logo rotulado de antidemocrático e atrai novos escrachos.

 

Crítica é texto nobre elaborado por gente capaz de enxergar a mágica dos detalhes e traduzir a realidade com humor, leveza e fina ironia, levando-nos a refletir sobre aspectos das coisas. Grosserias e expressões humilhantes, longe de se confundirem com jornalismo ou com reflexão, não passam de gestos grotescos premiáveis com uma bela cangalha. Fico com Goethe ao afirmar que o mais duro dos críticos é “o amador malogrado”, pois crítica é arte; coice, qualquer jumento dá!

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10 respostas

  1. Parabéns Caro Eramos pela publicação do belo texto com que sempre nos premia o bom e velho Cid Augusto, que, não apenas sabe escrever, mas, possui a sabedoria e a sensibilidade de encaminhar as palavras ao tempo-espaço adequados, com rara maestria.

    FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO

  2. O velho e bom Cid, sempre inteligente com as palavras…

  3. cid nao [e suspeito…. mas os apreentadores do observador politco sao sim…espeialmenmte quando o assunto fere o lombo deles.

  4. Parabens.Deveria mandar para alguns blogueiros que se dizem jornalistas.

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