Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Em 4 de novembro de 2008, quando a contagem dos colégios eleitorais dava conta de que o senador republicano John McCain estava definitivamente derrotado, não foi apenas o grito de “Yes, We Can” diante da recessão econômica, tampouco o fato inédito de um negro ser eleito para ser o 44º presidente dos Estados Unidos, que se sobressaíram na vitoriosa campanha democrata de Barack Obama.

“Na campanha de 2008 do Obama foi o momento que o mundo todo reconheceu o quão poderosa a internet poderia ser numa eleição. Nós arrecadamos dois terços do dinheiro da campanha somente em doações online”. A declaração é de Sam Graham-Felsen, um dos diretores de novas mídias da campanha de Obama à presidência, e responsável pelo site “barackobama.com”, o blog que se transformou em plataforma de campanha responsável por números expressivos.

Além dos dois terços de toda as doações arrecadadas, foram recrutados cerca de R$ 2 milhões de voluntários, outros tantos milhões de seguidores nas redes sociais (Facebook, Twitter, My Space etc), e uma lista de e-mails com 13 milhões de cadastrados foi formada. Por mais que a eleição norte-americana seja por meio de um modelo diferente do brasileiro (cada Estado tem um peso de acordo com o sistema eleitoral do país e a maioria de votos faz o candidato conquistar o colégio de cada federação), o recado para as eleições 2010, na qual os brasileiros escolherão presidente, governador, dois senadores, além de deputados federais e estaduais, está dado.

“Se alguém quer aprender algo com a campanha do Obama tem que levar a internet a sério. Deve ser umas das prioridades da campanha. Deve haver um staff para tratar somente destas novas mídias. E lembrar que estas pessoas não são aquelas que apenas consertam computadores, mas que precisam ser tratadas como gerentes nesta questão. Isso é realmente importante”, aponta o “blogueiro de Obama”, que atualmente é um dos diretores do projeto Aliance for Youth Movements, uma espécie de ONG para jovens ativistas digitais.

De passagem pelo Rio de Janeiro para participar do V Fórum Urbano Mundial das Nações Unidas, e pela primeira vez em solo brasileiro, Sam Graham-Felsen concedeu entrevista exclusiva ao UOL Notícias, na qual, além de dar mais detalhes de toda a campanha do atual presidente dos EUA, aponta a necessidade de os diretórios de campanha brasileiros aderirem à realidade web para conquistar mais eleitores e, principalmente, aproximá-los dos candidatos.

Histórico – Enquanto no Brasil a internet ainda não serve como plataforma para os políticos mudarem os rumos de uma campanha e a prática fica restrita aos comícios, debates na imprensa e principalmente propaganda na TV e rádio, em 2004, quatro anos antes de Obama chegar à Casa Branca, um outro candidato democrata é considerado o pioneiro na ideia de mobilizar eleitores via web: Howard Dean.

“Ele foi o primeiro a mostrar o poder de se angariar doações e voluntários [pela internet]. Ele perdeu, nem conseguiu vencer [o senador] John Kerry [nas prévias do Partido Democrata].Mas algumas das pessoas que trabalharam na equipe do Obama, especialmente “os cabeças” da equipe de internet, trabalharam anteriormente para Howard Dean, e eles não queriam cometer os mesmos erros que Howard Dean cometeu”, relata Felsen.

“A grande lição foi que aprendemos que a campanha não era só um caminho como: ‘Esta é a mensagem da minha campanha, fique com ela, ou deixe-a de lado’. Ao invés disso, era ‘aqui está o que eu defendo, e eu quero ouvir de você também, diga-nos o que você pensa’. Esta era a nossa atitude, nós queríamos que as pessoas pensassem que elas tinham um lugar na mesa, e que elas realmente tinham importância para a campanha. E nada melhor do que a internet para isso”, completa.

O diretor do “barackobama.com” trabalhou diretamente com o braço direito de Obama e dirigente de todo o processo eleitoral democrata em 2008: David Plouffe. Juntos, eles traçaram a diretriz para estabelecer um canal direto entre o candidato democrata e seus eleitores. “David Plouffe sentiu que era importante ser transparente na campanha, que eles tinham que ter real acesso ao que era a estratégia de campanha. E quando ele fez isso, nossos eleitores realmente gostaram e você podia perceber as doações subindo, as pessoas sentiram que a campanha realmente se importava com elas”, explica Sam.

Leis para a internet nas eleições 2010 – Nas eleições deste ano no país, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autoriza os candidatos a se manifestarem por meio de site pessoal com endereço eletrônico comunicado à Justiça Eleitoral e hospedados provedores nacionais. Permite ainda a criação de blogs, redes sociais e serviços de mensagens eletrônicas previamente cadastrados. Proíbe apenas a propaganda eleitoral em sites independentes, mesmo que gratuitamente.

Todas estas normas valem a partir do dia 5 de julho. Tempo suficiente para que haja um planejamento e que estas novas ferramentas sejam utilizadas para mudar o panorama da campanha eleitoral brasileira, segundo Sam Felsen.

“Campanhas inteligentes estão investindo muito mais recursos na internet”, aponta, antes de chamar a atenção para o fato de que este retorno financeiro pode vir em um maior número de doações. “Nos EUA, as campanhas costumavam arrecadar a maior parte do dinheiro de pequenos grupos que faziam grandes doações. Agora eu acho que é o oposto: eles estão procurando o maior número possível de pessoas para se envolverem, porque quando você tem 3 milhões de doadores, mesmo se eles derem só um pouquinho, acaba atingindo números bem grandes”, completa.

No Brasil, a Justiça Eleitoral permite doações diretas aos partidos, inclusive usando o cartão de crédito, mas o cenário ainda é restrito aos pequenos grupos, principalmente empresariais, que doam grandes somas de uma só vez aos candidatos.

Embaixadas do Obama – Twitter, Facebook e My Space são redes sociais que a maioria dos políticos brasileiros já usufruem. Eles possuem perfis, se comunicam com os internautas-eleitores, mas de acordo com o diretor de novas mídias ainda não captaram a essência e o poder destas plataformas.

“Basicamente, nós vimos Twitter, Facebook, My Space e muitos dos outros sites de relacionamento como embaixadas do nosso site. Como uma embaixada é um lugar onde você distribui a mensagem sobre o que o seu país está fazendo, quais são os seus valores, é como nós vimos as redes sociais. Mas fundamentalmente nós queríamos que eles voltassem ao [site] “barackobama.com”. Nós queríamos que eles entrassem em nossa lista de e-mail. Não queríamos que eles simplesmente ficassem no Twitter ou no Facebook”, explica.

“Nesta campanha, todos os discursos do Obama estavam no YouTube para todos assistirem integralmente. Além disso, Obama era capaz de fazer mensagens que iam direto aos seus eleitores, sem ter que falar com a mídia antes. Nós tivemos a possibilidade de conversar diretamente com eles. Eu acho que as pessoas puderam ter compreensão do candidato e saber quais eram os seus valores”, completa.

FONTE: Uol Notícias.

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