Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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A geógrafa Andrea Cristine escreve ao blog para rebater algumas colocações feitas – neste espaço – pelo gerente municipal de Meio Ambiente, senhor Mairton França. Leiam:

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Sr. Gerente de Meio Ambiente do Município de Mossoró, Mairton França,

Inicialmente, gostaria de agradecer os seus esclarecimentos e dizer que é sempre bom esse debate, que torna os munícipes mais próximos do poder e nos permite opinar, discordar e sugerir ações para tornar a minha e a sua Mossoró, melhor para se viver.

Meus comentários tão somente corroboram para enriquecer este debate, e, independentemente da minha falta de conhecimento sobre a temática ambiental, segundo a vossa opinião (embora eu seja geógrafa com mestrado na área ambiental, especialista em Educação Ambiental e Geografia do Semi-árido e estar cursando Engenharia de Pesca).

Sei que não é de bom tom citar titulação, mas neste caso, achei necessário apenas para o seu conhecimento e dessa forma deixar claro, que assim como o Sr. Gerente que é inegavelmente bem qualificado para a função que ora exerce na prefeitura, tenho algum respaldo para tecer meus comentários.

Ainda que não o tivesse, estou exercendo aqui meu papel de cidadã e alguns problemas socioambientais do nosso município são tão notórios, que dispensam qualquer conhecimento científico mais apurado.

Pois bem, em resposta às suas assertivas, seguem mais alguns comentários, que por vezes discordam do seu discurso e mais uma vez, reitero que meu intuito é o de corroborar para o bem estar de todos. Ei-los:

1. Que bom que o Senhor não conhece índices mais altos, fico pensando como o Rio estaria se assim fosse. De qualquer forma, o fato é que publicações de instituições conceituadas como as do IFRN, da própria UFERSA e artigos eletrônicos do Scielo, entre outros, trazem trabalhos acadêmicos que dizem respeito aos altos níveis de eutrofização do Rio Apodi-Mossoró na zona urbana de nossa cidade.

SÓ PARA CITAR ALGUNS TRABALHOS, atendendo vossa solicitação:

A) ANÁLISE DE VARIAVÉIS LIMNOLÓGICAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO APODI-MOSSORÓ André Leônidas da Silva Rodrigues e José Tavares de Oliveira Neto (UFERSA)

“ …É o fato de que os efluentes sem tratamentos, dejetos e lixos que tem se acumulado na bacia hidrográfica do Rio Apodi-Mossoró, tem progressivamente degradado este ambiente, tornando-o inadequado para a sobrevivência de determinados organismos. Portanto, as zonas próximas da área urbana de Mossoró possuem uma maior eutrofização em consequência das ações antrópicas, se comparadas a região de reservatório no município de Apodi”. (Logo o problema não é maior nos outros municípios que compõe a bacia como o Sr. Afirma)

B) IDENTIFICAÇÃO DE FONTES POLUIDORAS DE METAIS PESADOS NOS SOLOS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO APODI-MOSSORÓ/RN, NA ÁREA URBANA DE MOSSORÓ-RN (João Batista dos Santos Araújo e Jorge Luis de Oliveira Pinto Filho) REVISTA VERDE DE AGROECOLOGIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – UERN

“… A respeito da possível contaminação de ambientes da Bacia Hidrográfica do Rio ApodiMossoró/RN no perímetro urbano de Mossoró-RN por metais pesados, investigou-se as indústrias delimitadas na pesquisa, com relação aos efluentes produzidos por estas, comprometem a qualidade dos recursos hídricos da referida área de estudo. O resultado do ponto levantado acima foi alarmante, já que 100% dos entrevistados afirmaram que os seus efluentes não contaminam os recursos hídricos, uma vez que lançam os mesmos no sistema de esgotamento sanitário da cidade, e com isso fica a cargo da Prefeitura realizar o tratamento adequado desses resíduos líquidos. Destaca-se, portanto, o provável desconhecimento dos responsáveis pelas empresas pesquisadas, com relação à temática da poluição de recursos hídricos por metais pesados, bem como no tocante a legislação ambiental, já que os mesmos mencionam apenas o poder público com único responsável pelos tratos com o

 meio ambiente”. 

“…As contaminações dos recursos hídricos e do solo da área de estudo por metais pesados podem causar diversos danos aos seres vivos desses ambientes.  O sistema de esgotamento sanitário da cidade possui deficiência relacionada com a coleta  de esgotos, uma vez que comporta a presença de efluentes industriais, tornando-se assim, necessário adotar um sistema de tratamento de efluentes mais específicos. 

As empresas situadas na área da pesquisa são consideradas potencialmente poluidoras, já que  estão relacionadas diretamente ao setor industrial e não possuem qualquer tipo de práticas ambientais que minimizem  os seus impactos ambientais significativos.  É notória a ausência de fiscalização dos órgãos ambientais nas indústrias pesquisadas, uma vez que as mesmas descartam os seus resíduos sólidos e líquidos de forma inadequada, tornando-se assim, um agravante para poluição por metais pesados do ambiente.  Percebe-se também o total desconhecimento dos responsáveis das indústrias para com as questões ambientais, tendo em vista que os mesmos não possuem um planejamento das ações das empresas para as temáticas ambientais”. 

C) De acordo com ESTEVES e TUNDISI (1986, apud VALENTE et al 1997) (Revista Holos, Ano 23, maio/2007 – IFRN), a eutrofização causa diversos prejuízos, tais como:

– O aumento em demasia da quantidade de plantas aquáticas submersas (por exemplo, algas) e flutuantes (macrófitas) que podem dificultar a navegação de barcos.

– A liberação de toxinas por alguns tipos de algas;

– Sabor na água de abastecimento;

– O excesso de plantas aquáticas, quando  morrem vão para o fundo e entram em decomposição, provocando o consumo de grandes quantidades de oxigênio. Podem ainda gerar gases tóxicos, corrosivos e de mau cheiro.

– Em geral as macrófitas liberam o oxigênio da fotossíntese para fora do corpo d’água, e quando em excesso provocam sombreamento evitando a fotossíntese de algas. Tornam o meio propício para a deposição de larvas de insetos causadores de doenças. Adsorvem e absorvem metais pesados e nutrientes da água – o que poderia ser benéfico se estas plantas fossem tiradas do meio aquático, no entanto isso raramente ocorre por falta de local adequado para dispor as mesmas, e a presença de metais pesados impede a sua adição no solo para uso agrícola, pois isto causaria contaminação do mesmo.

– Alteração da acidez da água (pH), pois  consome gás carbônico pela absorção fotossintética (varia do dia para a noite). A alteração na  acidez pode causar a morte de determinadas formas de vida aquáticas.

Diante disso podemos inferir que os aguapés que, literalmente, povoam o Rio Apodi-Mossoró não se constituem apenas em “macrófitas incômodas” como o Sr. Diz. A eutrofização de um corpo d´água traz sérios prejuízos à ictiofauna que o habita e, consequentemente para aqueles que fazem uso do pescado como alimento, caso de muitos moradores que ocupam as margens do rio.

Aliás, se os índices de poluição não vêm aumentando, por que será que é cada vez mais forte o odor que inalamos ao transitar nas proximidades das margens do rio, especialmente no Centro da cidade quando chove? Mesmo tendo eu pouco conhecimento sobre o assunto, como o Sr. Afirma, acredito que o problema não seja das águas pluviais.

E o que dizer das galerias de escoamento pluvial que se transformaram em verdadeiros esgotos a céu aberto? É certo que a população tem sua parcela de culpa, mas o Sr poderia aproveitar os seus fiscais para orientar as pessoas e, por que não para fiscalizar o comportamento da população neste aspecto.

2. Coleta de lixo regular também ajuda. Aqui no meu bairro, por exemplo, há 5 dias não temos coleta, também não dispomos do serviço de coleta seletiva tão bem executado numa bela parceria entre a Prefeitura de Mossoró e a ACREV (O que está dando certo merece elogios, claro).

3. Falando em lixo e meio ambiente. Por que o lixão de Cajazeiras continua em operação? Incluindo o despejo de resíduos por carros da prefeitura? Quando da instalação do tão comentado aterro sanitário, uma das metas era desativá-lo, no entanto passaram-se 3 anos e o mesmo continua a gerar problemas ambientais, sociais e de saúde pública.

4. Quanto ao conjunto de leis, diretrizes, plano diretor que a municipalidade elaborou com tanta competência, parabéns! Conheço alguns documentos, inclusive participei de algumas das reuniões que foram abertas ao público. Os documentos são bem elaborados por sinal. Mas o que dizer da liberação da licença para a construção de um hipermercado na cidade que ocasionou o aterramento de parte da Lagoa do Bispo?

O Sr., melhor do que eu sabe que corpos hídricos, sejam eles naturais ou artificiais, obedecem a legislação ambiental específica e não podem ser aterrados. No entanto a Lagoa do Bispo foi aterrada e o que se viu no período chuvoso é de conhecimento de todos, ruas alagadas, carros quebrados, estacionamento do supermercado e garagem de prédio residencial próximo, completamente alagados.

5. Quanto as 70 mil mudas de plantas, uma pena o programa não ter atingido o meu bairro (Rincão) que aliás fica bem próximo do viveiro de mudas da prefeitura, onde contamos nos dedos as árvores que temos. Aproveitando a oportunidade, cabe mencionar ficamos, regularmente, dias sem água e só existe uma rua calçada, nas demais estão se formando ravinas durante as fortes chuvas que tem caído na cidade.

Parabéns pelos projetos, pelo viveiro de mudas (já peguei as minhas 3 de direito este ano), mas acho que ainda não surtiram efeito suficiente e realmente tenho visto árvores novas nos últimos 5 anos, mas tal fato se restringe a praças, ruas e avenidas principais da cidade.

É isso, espero ter colaborado positivamente para essa discussão. Obrigada!

Andréa Cristiane de Melo

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13 respostas

  1. Erasmo:
    se eu fosse o secreário que teceu os comentários sobre o post da Geologa Andréa, apresentando tantos dados científicos e poucos efetivos, eu procuraria ao menos me inteirar do assunto nas próximas oportunidades, para evitar esses constrangimentos. Parabéns Andréa, e com pessoas como você que se espera uma Mossoró desenvolvida.
    Acresço ainda que também não verifiquei a existência dessa enorme quantidade de plantas (70.000) pelo menos no Bairro Aeroporto, poucas ou quase nenhuma planta foi colocada nos últimos anos pelo poder público municipal… Logo é muito distante do local onde são cultivadas, o que impossibilita (provavelmente) a inclusão deste bairro nesse programa.
    Quanto a coleta de lixo efetivado pela SANEPAV – uma empresa terceirizada, esta sim funciona, com bastante competência (pelo menos alguma coisa funciona correto nesta administração), sendo cumprida religiosamente a programação. Muito embora os rastros dessas “terceirizações” fique lastreados em débitos na Justiça do Trabalho, quando o município quase sempre é quem paga, como é o caso da Sermov e da HD (contratadas na última administração de Rosalba), entre outros, que ao falirem deixaram o débito todo para o município que responde subsidiariamente e são milhões de reais.

  2. Tô gostando de ver, aos poucos os leitores vão mostrando a verdadeira situação de nossa cidade. Andréa colocou os pontos nos ” is” e mostrou com conhecimento que o buraco é mais embaixo. Assim como Gutemberg Dias também rebateu todos os argumentos de Francisco Carlos.

  3. O grande problema que vejo da atual administração municipal é que as pessoas que a formam, insistem em querer calar a boca da população e não entendem que diferentemente de uma ditadura, na democracia, as pessoas são livre para expressar seus sentimentos como cidadãos. Parabéns Andréia por um comentário tão bem fundamentado como o seu.

  4. Desculpe a graça, mas lembrei daquela expressão popular “Oh na cara, se fosse no olho tinha furado”.

  5. Parabéns Andrea, se eu fosse o secretário procuraria um burraco para mim enterar depois desse mico.

  6. Mossoró cresce, apesar de Fafá e sua equipe administrativa. Mossoró e a UERN crescem e começam a tomar novos rumos, graças aa vigilância e aos questionamentos feitos pela força do quarto poder nessa nova era de recursos midiáticos virtuais e interacionistas sob a égide da “liberdade de expressão”.

    Parabéns a todos vocês repórteres vocacionais!!!!!!!

    OUTRORA, SÓ SE OUVIA UMA VOZ – ERA A ERA DOS MONÓLOGOS. TCHAU!!!!!!!

  7. Muito lúcida e explicativa as considerações de Dra. Andréia. Cabe ao Sr. Secretário/Gerente inteirar-se antes, para não passar por tais constrangimentos. O Blog está de parabéns pelo debate. Congratulo os assessores da Prefeitura por trazerem argumentos técnicos e informando acerca de suas pastas, mesmo contrariando a verdade dos fatos. Esta é a riqueza do debate numa sociedade democrática.

  8. Marcia e caros leitores deste excelente blog, permitam-me escrever aqui um adágio popular bem coloquial e chulo, mas tenho que dizer depois desse brilhante comentário postado pela Sra. Andrea. Carissimo Gerente do Meio ambiente Sr. Mairton França, depois dessa amigo: PEÇA PARA CAGAR E SAIA.

  9. Caros Senhores,

    Primeiramente gostaria de parabenizar o Tio Coloral pelo excelente serviço que vem prestando a cidade de Mossoró. Esse debate é extremamente salutar, principalmente no nível em que está sendo desenvolvido, por pessoas capacitadas e com argumentos. Vale salientar apenas que numa discusão todos os lados podem ter argumentos é assim na democracia. Opiniões podem divergir, no entanto, a verdade ele existe, e a verdade é própria, ou seja de cada um.

    Conheço a capacidade tanto do gerente de gestão ambiental, o Sr. Mairton França, como a professora Andréia. Ao meu ver quando Andréia e Mairton se completaram nos seus comentários, mesmo na discórdia de alguns aspectos. Quando Mairton disse: “… Sobre o Rio Apodi-Mossoró e seus indicadores de poluição, ainda não conheço indicadores que concluam com a afirmação da Sra. Andréa de que os indicadores de poluição nunca foram “tão elevados”, gostaria muito de saber suas fontes, porque até onde se sabe, não há bases de dados históricos que possam corroborar isso…”. Ele não afirmou que o Rio não está poluído. Ele apenas não conhece, como realmente não tem DADOS HITÓRICOS que possam servir de parâmetros. Conheço todos esss documentos citados por Andréia e posso afirmar que realmente é verdade o que ele menciona sobre a poluição do Rio. O Rio está poluído, no entando, o ponto de discórdia de ambos é quanto a dados históricos, ou seja, não existem estudos em épocas mais distantes para que se possa afirmar, embora isso seja dedutivo, de que os níveis de poluição “nunca foram tão elevados”.

    Na verdade a grande conquista que nós ambientalistas tivemos com a criação, por parte do Município, da Gerência de Gestão Ambiental é que agora temos referencial, temos institucionalização de causa, podemos organizar leis, propostas, estudos, capacitação, e etc… que só com um órgão a nivel local como a gerência é que poderíamos consguir. Acredito que o grande serviço realizado por Mairton, e Andréia deve sabe também, é que ele por contar com poucos recursos na sua pasta, ele foca seus esforços com trabalho de formiguinha priorizando a educação ambiental com os NEAs – Núcleo de Educação Ambiental -, que procura plantar nas nossas crianças a preocuação com o meio ambiente. Não podemos deixar de valorizar os avanços que tivemos nessa área, apenas por uma pequena discordânca. Tanto Andréia, quanto Mairton tem excepicionais serviços prestados a conservação e valorização do nosso meio ambiente, e avanços significaivos existem e estão aí aos nossos olhos. Podemos comprovar em diversos casos na nossa cidade a formação já, de túneis de sombra. O que so foi possivel com o treinamento dos podadores para que fosse priorizado a sombra (Ex.: Avenida joao da Escóssia ao lado do cemitério). Não vou aqui mencionar a importância de todas as cartas de leis que foram criadas. Isso seria chover o molhado.

    Não vamos deixar que os debates políticos influenciem na nossa discussão. Não venham tentar desmerecer e dizer que tudo que foi feito é pouco ou que não passa de obrigação, isso é fácil. Vamos sim registrar avanços e procurar soluções para os grandes e graves probemas que ainda temos, no caso em questão o Rio Mossoró. Ninguém pode dizer que o rio está bem, e ninguém disse isso. Vamos juntos realizar o debate justo de o que podemos fazer para priorizar a vida do nosso bem maior que é a Água.

    Obrigado a todos.

    OBS.: NÃO SEI PORQUE A OPÇÃO DE COMENTÁRIOS NA POSTAGEM DE MAIRTON ESTÁ DESABILITADA.

  10. meus parabrens dra. andréa, pelas suas consideraççoes sobre o rio mossoró poluido e o secretaria da prefeitura com aquela ganancia de fica defendendo o errado, será que ele pensa que mossoró não tinha uma pessoa para dizer a verdade. Gostaria que a TV mossoró lhe convidasse para fazer uma explanação sobre o triste rio mossoró que a prefeitura não dar nem a minima só esse secretaria defendo o erro.

  11. Agradeço a Fernando por ter compreendido minha linha de argumentacão. Quanto à Sra. Andréa, mais uma vez a convido para uma visita à nossa Gerência da Gestão Ambiental. Certamente, ela compreenderá o que vem sendo feito.
    Obrigado!

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