A Câmara Municipal de Mossoró protagonizou hoje uma das sessões mais tumultuadas do ano. Os trabalhos começaram pouco depois das 9h, com a presença de 19 dos 21 vereadores. Pouco tempo depois chegaram os dois vereadores restantes. Assim, tivemos uma sessão com a presença de todos os edis, algo bem difícil de acontecer.
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Nas primeiras duas horas e meia de sessão não houve discussão de nenhuma das 83 matérias previstas na pauta, entre estas a criação da Agência Reguladora e a que analisa a permuta de um bem imóvel entre um ente privado e a prefeitura de Mossoró. O tempo foi usado unicamente para debates sobre a exoneração de 146 cargos comissionados, fato ocorrido na última quinta-feira (01º).
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Neste período teve de tudo:
Vereadores se acusaram mutualmente. Num dos momentos mais tensos, o vereador Ricardo de Dodoca disse que o presidente da Casa, vereador Jório Nogueira, só tinha exonerado aquelas pessoas porque não tinha filhos. De pronto, Jório Nogueira pediu respeito ao vereador Ricardo, dizendo que não aceitaria que ninguém descambasse para o lado pessoal. O recado não foi aceito. Durante o pequeno expediente o vereador Ricardo voltou a tocar no assunto, e o presidente voltou a recriminá-lo por entrar na seara pessoal.
O presidente também teve embates com os vereadores Tassyo Mardony, Genivan Vale e Lahyre Neto, sempre com indiretas e até diretas mútuas.
Nas galerias, muitos dos comissionados exonerados se manifestavam a cada fala do presidente. A uma delas foi dada a oportunidade de usar a tribuna, oportunidade em que questionou a necessidade das exonerações. Raissa Gabrielly era assessora do vereador Tassyo Mardony.
Um manifestante entrou na Câmara com um litrão de uísque e um cartaz com os dizeres: “Jório, eu trouxe seu whisky do Carnatal”. O presidente lamentou a atitude, dizendo que o manifestante era um desequilibrado.
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O presidente da Casa sugeriu que as votações de melhor e pior vereador do ano, havidas ontem em dois órgãos de imprensa locais, na RPC e na Abolição FM, foram orquestradas. Nesta última o vereador Jório Nogueira foi eleito o pior vereador.
Ainda sobre votações de melhor vereador do ano, Jório disse que a votação realizada com profissionais da imprensa, que o elegeu o melhor vereador, não tinha validade, vez que uma lei municipal impede que o presidente seja votado. Reforçou que foi ele mesmo quem fez o alerta.
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Numa rápida conversa com o vereador Genivan Vale, este me mostrou o caso de um vereador que tinha NOVE assessores, quando o máximo permitido era SETE. “Tem muita coisa esquisita aqui”, vaticinou.
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Também em conversa rápida, a vereadora Izabel Montenegro revelou que os vereadores são mais criticados por serem vitrine, mas que tem muita coisa estranha envolvendo alguns servidores efetivos, e que tais fatos passam despercebidos da sociedade. Falou em altos salários, incorporações, benefícios atípicos etc.
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O vereador Tomaz Neto estava uma arara. Nos bastidores, disse-me cobras e lagartos de alguns de seus colegas. Revelou fatos chocantes que acontecem nos intramuros, mas não disse nomes. A raiva de Tomaz tem a ver com críticas severas e insinuações que lhe foram feitas pelo fato de não ter assinado uma nota em desfavor do presidente da Casa. “Eu estava em São Miguel. Não estava sabendo de nada”, disse-me.
Com sangue fervendo nas veias, Tomaz apresentou um requerimento oral para que fosse feita uma apuração das gestões dos ex-presidentes da Casa, de 2013 pra cá. Doze vereadores assinaram o requerimento, incluindo o atual presidente. Os ex-presidentes Claudionor dos Santos, Alex Moacyr e Professor Francisco Carlos NÃO assinaram. “Está vendo aí, cadê que eles assinam?”, sapecou Tomaz, que concluiu: “Só querem pegar este aqui (apontado para Jório), e eu sei muito bem por que é”.
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Quando chegou o momento das votações importantes do dia, 18 vereadores saíram da sala de sessões, ficando apenas os vereadores Jório Nogueira, Manoel Bezerra e Tomaz Neto. Por falta de quórum a sessão foi encerrada.
Mais uma vez as votações de interesse da sociedade foram postergadas. Resta saber até quando.
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Encerrada a sessão, tive oportunidade de conversar com o vereador Jório Nogueira, o qual esclareceu que não foi a Natal com o intuito de curtir o Carnatal. Disse-me que foi representar a Câmara Municipal numa cerimônia oficial de título de cidadania, e que, a convite de um amigo, foi ao Carnatal, onde, inclusive, estava “sem clima”. Lamentou a repercussão negativa que o episódio ganhou.
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O que consegui concluir de tudo foi que todos os vereadores sabem fatos impublicáveis de alguns dos pares, e que vão desenrolando o novelo no mesmo ritmo que seu contendor. Se este parar, ele para; se este continuar, ele continua. Simples assim.
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Amanhã terá sessão novamente, às 9h.