Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

0

Ontem, vi nas redes sociais que Ed Mota, sobrinho do cantor e compositor Tim Maia, havia feito algumas críticas muito pesadas a Raul Seixas. Na oportunidade não procurei saber maiores detalhes. Hoje, assistindo ao canal Foro de Moscow, fiquei mais a par do assunto.

Raulseixista que sou desde os 11 anos de idade, sinto-me na obrigação de meter o bedelho no assunto, esclarecendo algumas situações, ditas tanto por Ed Mota, como pelos apresentadores Bruno Barreto e William Robson.

De início, desconheço qualquer “falha de caráter” de Raul Seixas, muito pelo contrário. Quando começou a carreira, como produtor da CBS, Raul Seixas impulsionou o sucesso de nomes como Odair José, Diana, Renato & seus Blue Caps, Roberto Ribeiro, Leno e Lília, Jerry Adriani e Baltazar. Inclusive, os maiores sucessos dos dois últimos foram escritos por Raul Seixas: “Doce, Doce Amor” e “Se Ainda Existe Amor”, respectivamente.

Quem se propuser a mergulhar nas obras dos artistas citados, bem como de outros do portfólio da CBS naquele período, final dos anos 60, encontrará várias canções escritas por Raul Seixas, que sempre teve o reconhecimento de todos eles. Tanto é que muitos tentaram ajudá-lo nos últimos anos de vida, como Jerry Adriani e Odair José.

A única história desabonadora envolvendo a conduta de Raul Seixas foi na ditadura militar, e tudo indica ser um boato. Alguém chegou a dizer que ele havia dedurado o seu parceiro, Paulo Coelho, o que nunca foi provado. Nem o escritor, que já foi instigado a tratar do assunto, acredita que isso tenha acontecido.

Outro equívoco é imaginar que as canções de Raul Seixas foram escritas por Paulo Coelho. De fato, eles fizeram muitas músicas em parceria, como “Al Capone”, “Tente Outra Vez” e “Medo da Chuva”, no entanto, o “mago” nem foi o maior parceiro do cantor, título este que cabe a Cláudio Roberto, com quem Raul escreveu dois de seus maiores clássicos, “Maluco Beleza” e “Cowboy Fora-da-lei”, além de dezenas de outras canções.

Muitas composições Raul Seixas escreveu sozinho, como “Ouro de Tolo”, “Metamorfose Ambulante”, “Mosca na Sopa” e “Trem das 7”, pra ficar apenas no início da carreira. De outro modo, não há no repertório de Raul Seixas uma só música escrita unicamente por Paulo Coelho.

Costumo dizer que sou capaz de cantarolar entre 20 e 25 músicas de Raul Seixas numa roda de conversa e os presentes conheceram todas elas, mesmo que um ou outro não seja fã. Poucos artistas brasileiros conseguem reunir tantos sucessos. Ed Mota tem quantos, apesar de seu tão alardeado talento musical? Eu lembro de “Manuel” e “Colombina”, tem outra?

Sobre um disco de referência do cantor e compositor baiano, posso apontar “Krig-ha, Bandolo!” (1973), considerado o 12º melhor disco do Brasil segundo a lista dos 100+ da revista Rolling Stone Brasil, e o 5º melhor na eleição do jornal Estado de S. Paulo, em 2012.

Como todos os artistas, Raul Seixas teve momentos altos e baixos na carreira. No seu caso, os baixos foram motivados pelo vício em drogas, especialmente bebidas alcoólicas, o que acabou por leva-lo à morte em 1989, aos 44 anos.

Raul Santos Seixas é um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos, o pai do rock nacional, com enorme reconhecimento no meio. É uma unanimidade. Não me recordo de outro artista que tenha desmerecido seu trabalho e seu caráter. O que muitos fazem, é lamentar que uma pessoa tão talentosa tenha perdido a guerra para o álcool.

Ed Mota, o gênio que conseguiu rimar “Manoel” com “Céu”, é uma voz solitária.

#TocaRaul

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *