Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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O publicitário Igor Rosado me enviou um relato de um episódio ocorrido com ele hoje pela manhã. O caso evidencia o índice de estresse e de pânico em que estamos. Vale a pena ler:

O TERROR E O FIM DA CORDIALIDADE

Muito antes de Chico Buarque de Holanda encantar o mundo com sua poesia musical, o seu pai já era o respeitado advogado e jornalista Sergio Buarque de Holanda, intelectual reconhecido. Autor de diversas obras, figurando a clássica “Raízes do Brasil” como a mais conhecida delas. Sergio Buarque também foi o autor da conhecida teoria de “o brasileiro, o homem cordial”. O autor viveu entre os anos de 1902 e 1982. Em 2009 a sua teoria precisaria passar por sensíveis transformações. O brasileiro mudou, e mudamos para pior. Uma mínima experiência pessoal me levou a essa reflexão que, ao mesmo tempo em que peca pela generalização, perdoa-se pelos sinais dos tempos nos noticiários. É a obviedade. A primeira vítima do terror, do temor, é a civilidade. O que passou-se. Raramente consigo acordar às 4:30h da manhã para dar uma corrida com amigos pela João da Escóssia, e hoje foi um desses dias. Após a corrida, por volta das 6 da manhã, fui a casa de um desses amigos, na Rua Moisés da Costa Lopes, no “perigoso” bairro da Nova Betânea, a duas quadras do meu escritório, que fica na própria João da Escóssia. Tomei banho e me vesti para o trabalho por ali mesmo. Sem a chave do prédio, que só abre as 8h, resolvi sentar na calçada da dita casa, fazendo uma hora e lendo um livro até que fosse o tempo de encontrar gente na Quixote. Trinta minutos de leitura depois e me vem um senhor, que parecia ser o dono da casa vizinha, enfurecido, me perguntando o que eu fazia ali, por que estava ali, para onde eu ia, quem eu estava esperando. Repito, enfurecido. Imaginei o temor que aquele homem deveria estar sentindo. Imaginei o que passou pela cabeça daquela pessoa, atormentada pelo que vê, lê e ouve. Expliquei que eu trabalhava na João da Escóssia e estava esperando o escritório abrir. Ele não se conteve. Dei-lhe um cartão desses, de visita comercial: Igor Rosado – Quixote Comunicação, com endereço, telefone, site, e-mail, só faltando dizer que o meu time é o Potiguar (o que poderia piorar a situação). Ele se acalmou. “Percebeu que nós não estamos na Índia e eu não sou um Dalit”. Amuou-se, baixou a cabeça, vermelho não sei se de raiva, vergonha ou alivio de não estar na frente de um bandido que amarraria a sua família e roubaria seus bens. Entrou em sua casa sem dizer nada. Me sentei tranquilamente e continuei minha leitura. Poderia ter esbravejado ou ignorado a intriga. Na verdade, só pensava: a que ponto chegamos. Somos todos suspeitos? Não é só a segurança que a violência tira das pessoas. Ela toma também as melhores qualidades.

 

Nota do blog: Ainda bem que o publicitário Igor Rosado conseguiu manter a calma para contornar a situação. Imagine se ele fosse estressado como o senhor que lhe abordou.

Tais situações também são comuns no trânsito, que, sem sombra de dúvida, é um termômetro do estresse social.

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