Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Estamos próximos do fim do mês de março. Pós-carnaval, início das aulas, continuidade das mortes. Mossoró, terra do sol, e que um dia pretendeu (e claro que esse pretender é algo irreal e típico de filme da Disney) ser Capital da Cultura. Isso, cultura. Cultura do lixo, cultura do rio podre, das moscas. Cultura da expulsão dos poetas da COBAL. Cultura da falta de incentivo aos grupos de teatro, aos cineclubes, cultura de desvalorização do próprio nome de Elizeu Ventania. Cultura do MegaFest – onde tem-se a ilusão de que eu sou feliz porque POSSO, e estou lá porque tenho POSSES, ou porque passei os dois primeiros meses do ano juntando dinheiro para lá estar -.

Mossoró, cidade que homenageia e se todo santo ano a glória de um dia ter espantado um bandido e sua trupe daqui. Claro, ou esperava-se que as autoridades políticas e as pessoas de bem da cidade deixassem os cangaceiros se instalar, fazer moradia e reinar na cidade? Essa glória é reinventada todo ano em nossa cidade.

Mossoró é uma cidade Museu, vive do passado, literalmente. E em falar em museu, bem, onde anda o nosso? Por que não expulsar Fernandinho Beira-Mar então? Por que não expulsar, ou melhor, algo ainda mais básico do que expulsar, por que não capturar, julgar, prender e encarcerar os bandidos que cometeram quase 40 assassinatos em nossa cidade até o momento (agora mesmo deve ter ocorrido mais um)?

Porque em vez de trazer inúmeras bandas baianas no meio do ano para cá, a cidade (Prefeitura e Senhora Prefeita) não investem pelo menos 10% do que seria investido nesse festival de baixarias baianas de penúltima categoria em nossa (in)segurança pública? Ou será que estou captando errado e esse Corredor Cultural realmente está fazendo com que a cultura do povo mossoroense se eleve a níveis nunca antes vistos na história dessa cidade? Será que estou tão cego assim e não percebo tais melhorias? Será que estou cego e realmente o Lauro Monte Filho ainda sobrevive para contar alguma estória? Será que estou cego e não percebo que os senhores administradores e grandes incentivadores da cultura mossoroense viram o Cine Pax morrer aos poucos por conta da “permissão” de venda que é dada aos vendedores de dvds piratas em cada esquina da cidade, tendo o Vuco-Vuco Trade Center Comercial Ltda. sendo a Blockbuster da classe média-baixa? Por sinal, já percebo a migração das classes mais altas na compra dos famosos “2 é 5”, “5 é 10”. Será que eu estou realmente cego e não percebi que um shopping (ou seria centro comercial?) foi levantado à custa do pagamento de impostos do povo trabalhador, e foi levantando para o bel-prazer dos novabetanianos? Será que somente os novabetanianos são gente? Somente eles podem comprar? Aliás, algo ainda mais importante, será que um shopping é realmente o ingrediente X e mais necessário para fazer feliz um povo tão cansado de sofrer, de ver a corrupção “gritando”, os poderosos mandando e desmandando e ainda enviando rosas? Onde fica (se é que fica) o acesso para esse Centro Comercial da cidade por parte dos moradores do Alto do São Manoel, Vingt Rosado, etc…? Onde é que fica a polícia? Claro, já sei, óbvio. Tolice a minha, perdão. A polícia, ou boa parte dela fica de prontidão no MegaFest, no Cidade Junina. É lógico, onde estava com a cabeça de pensar que um cidadão comum, que fica em casa e quem sabe se arrisca bravamente de ir tomar um sorvete com o filho ou cerveja com um amigo na esquina mereceria ter viaturas circulando, apenas para dizer “estamos aí”. Quem costuma dizer “estamos aí” são os bandidos, estão aí, ali, em todo canto. Mas eles não podem e nem devem estar no MegaFest, claro. É pedir para manchar demais a imagem da ex-futura-um-dia-quem-sabe-NUNCA Capital da Cultura.

“Ó, mundo tão desigual

 Tudo é tão desigual

 De um lado este carnaval

 Do outro a fome total…”

 (Gilberto Gil)

“Homem-primata, capitalismo selvagem…”

 (Titãs)

*Jônatas Andrade

Acadêmico do curso de Pedagogia

Cineclubista (e incentivador da cultura) por amor, e não pelo dinheiro.

Mossoroense de nascença, sobrevivente na raça.

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8 respostas

  1. Prezado Jônatas,

    Você só esqueceu uma coisa no MegaFest e no Cidade tem muita gente que “trabalha e muito” lá para sobreviver, inclusive eu, portanto critique quem tem de ser criticado e não os eventos pois muitos dependem deles para sobreviver!
    Boa sorte na sua luta!

  2. Imagino esse jovem Jônatas (ainda) acadêmico vivendo num mundão que nem São Paulo! A propósito, essa sua veia lírica refletida em esteriótipo dos versos do titãs notadamente é de quem ainda está nos bancos da Faculdade não conhece o mundo que te espera após conquistar seu canudo de professor. Por ser ainda acadêmico, suponho ser ainda muito jovem nem pai de família ainda é e nem conhece o amargo da disputa num mercado competidíssimo como esse aqui fora. O mundo ensina, vamos à luta!

  3. Chula o texto! Impublicável!!!! Esse é meu registro para o Tio. Abraços, Vilcemar Forte

  4. Arison se tu vive dos eventos da estação das artes tu passa fome que nem presta. Homi aquilo só é meio de vida para as bandas que se apresentam por lá. E pra Tasso Garcia também

  5. Vc tem certez que é acadêmico? Ou tu seria mais um aluno(a) se fantasiando de EJA, Conheço muitos que se passam por ex-alunos da rede pública quando na verdade querem apenas notoriedade nas melhores classifcações da nossas Universidades da região e além mar.

  6. Lacraia ou sei lá quem, seu nome provavelmente não esse, posso lhe garantir que fome não passo e nem nunca passei, nem vivo dos eventos na estação das artes, lá tenho um complemento de minha renda, para poder sustentar minha família e poder dizer que ando de cabeça erguida dizendo até meu nome na net nos comentários que posto, diferentimente de você. E se o Tácio ganha dinheiro lá é porque trabalha. Portanto, trbalhe! porque quem trabalha Deus ajuda! Fica a dica.

  7. É engraçado, juro. Uns dizem que minhas palavras são impublicáveis, outros questionam se sou estudante…

    Para o leitor que falou sobre o esqueci de falar sobre o MegaFest: meu caro, não critiquei em momento algum de meu texto as oportunidades que são ofertadas durante tais eventos, o que critico e critiquei foi a má distribuição das já poucas viaturas que temos em nossa cidade. Critiquei as bandas baianas e o festival de baixarias de tais eventos. Não pedi o fim do MegaFest ou mesmo do Cidade Junina, apenas fiz uma colocação (que sei que jamais será atendida) para a Prefeitura “desviar” pelo menos 10% do investimento de tais eventos em eventos realmente culturais.

    Para o leitor que falou que meu texto é impublicável: é tão impublicável que já rendeu elogios pessoais de pessoas que nunca vi, conheci ou sequer conhecerei. Não busquei e nem busco audiência, “apenas” espalhar algumas verdades. O texto foi “bater” em Campinas pelo que fiquei sabendo, aqui mesmo na cidade ele foi publicado em pelo menos 4 ou 5 blogs somente em Mossoró. Sem contar as cidades vizinhas das quais já recebi retorno.

    Para o leitor que questionou se sou acadêmico, ou mesmo do EJA: Sou acadêmico, sou aluno, sou estudante, sou aprendiz (assim como penso que todo mundo nessa vida). E se fosse do EJA, pergunto-te, qual o problema? Acredite, não busco notoriedade mais do que sua pessoa, que julgou um texto de uma pessoa que você jamais conheceu, apenas por ter colocado a informação que sou acadêmico. Se quiseres, apareça qualquer dia pela faculdade, me procure, talvez não seja difícil. Assim poderemos bater um papo, civilizamente, sem agressões pessoais, sem PRÉ-CONCEITOS, companheiro. De um gentleman para quem sabe um outro…

    Abraços, deixem emails caso queiram estender a discussão, por aqui torna-se algo muito isolado, no espaço de outra pessoa. Garanto que não serei indelicado como alguns foram ou tentaram ser comigo…

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