Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Segue abaixo texto que publiquei na revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN, nº 97, ano 2018, contando a história do município de Governador Dix-sept Rosado, que hoje completa 58 anos de emancipação política.

Governador Dix-sept Rosado: Fé, Alho e Calcário*.

Governador Dix-sept Rosado é um dos 167 municípios que compõem o Estado do Rio Grande do Norte. Ele está encravado na mesorregião do Oeste Potiguar, área que engloba 62 municípios. Mais especificamente, Governador Dix-sept Rosado pertence à Microrregião da Chapada do Apodi, juntamente com Caraúbas, Felipe Guerra e o próprio município de Apodi.

 A sede do município fica distante 38 km de Mossoró e 309 km da capital, Natal. Limita-se com os municípios de Baraúna e Mossoró, ao Norte; Caraúbas, Felipe Guerra e Apodi, ao Sul; Upanema e Mossoró, ao Leste; e Tabuleiro do Norte – CE, ao Oeste. Sua área aproximada é de 1.300 km², a 06ª maior do Rio Grande do Norte.

A história conhecida de Governador Dix-sept remonta ao Século XVIII. Antes disso, sabe-se apenas que toda a região era habitada pelos índios Monxorós, da família dos Cariris. As primeiras informações sobre o povoamento da cidade vêm do período de interiorização do país, justamente no Século XVIII.

No caso específico de Governador Dix-sept Rosado as fontes são escassas, pois inexistem documentos históricos em órgãos oficiais. O que se sabe é fruto de alguns poucos livros, onde seus autores se basearam nos relatos dos habitantes mais antigos, que por sua vez ouviram as histórias de seus antepassados. Um desses livros é “Nossa Terra”, 2002, escrito pelo historiador Reginaldo Claudino, obra esta que se tornou a fonte principal deste texto, mas não a única.

Governador Dix-sept Rosado começa a se formar na segunda metade do Século XVIII, quando um habitante de origem desconhecida atravessa o Rio Apodi-Mossoró, a partir da cidade de Mossoró, e monta um rancho em algum lugar do território onde hoje está encravado o município de Governador Dix-sept Rosado. O local passou a ser conhecido pelo nome de Passagem do Pedro, eis então a primeira denominação do local.

A história da cidade, contudo, começa a se desenvolver de forma mais evidente no ano de 1766, quando um capitão português chamado Sebastião Machado de Aguiar aporta na região. Solteiro e disposto a montar uma grande fazenda de gado, ele logo se casa com Catarina d’Amorim Oliveira, de origem desconhecida.

O casal, agradecido a Deus pelo nascimento de um filho do sexo masculino, passa a construir uma capela, que fica pronta em 1792. Neste período o local já é conhecido como São Sebastião. A primeira visita de uma autoridade eclesiástica à capela ocorreu em maio daquele mesmo ano. Foi incumbido da tarefa o visitador Dionísio de Souza.

O Capitão Sebastião Machado de Aguiar morre em 1806, pouco tempo depois sua esposa também parte para a morada eterna. Ambos são sepultados na capela que construíram. O legado do casal continua através do único filho, Sebastião, que se casa com Rita, de origem cearense. Tal casamento passa por grandes turbulências, inclusive com suspeita de adultério por parte da esposa, que teria traído o marido com o padre. Ao final, Sebastião foi morar no Piauí e Rita voltou para o Ceará. O casal, assim, pouco acrescenta à história do município.

O próximo fato importante a acontecer em São Sebastião foi a construção do cruzeiro que até hoje está fincado em frente à Igreja Matriz de São Sebastião, isso no ano de 1829. O autor da proeza foi o escultor piauiense Francisco José Rodrigues, que fez o belo trabalho a partir de um bloco de pedra calcária extraído do sítio Cigana, localizado há aproximadamente um quilômetro de distância da então capela.

Em 1842, através da Resolução n.º 87, da Assembleia Provincial, é criada a Freguesia de Santa Luzia de Mossoró, que passa a englobar o distrito de São Sebastião, até então pertencente à Freguesia da Ribeira do Apodi.

No âmbito jurídico, o primeiro órgão criado no município foi o Juizado de Paz, o que se deu através da Resolução n.º 250, datada de 23 de março de 1852. À época, a Freguesia de Santa Luzia de Mossoró e seus distritos pertenciam à jurisdição do Município de Vila Princesa, Comarca de Assu.

A primeira escola primária foi criada em 1854. Na época, só as crianças do sexo masculino podiam frequentá-la; o cemitério público foi construído em 1865. Antes disso os sepultamentos ocorriam na capela.

O cultivo de alho, que marcaria para sempre a história do município, teve início em 1870. Neste caso há uma divergência entre historiadores. João Jacinto da Costa defende que o pioneirismo partiu da senhora Joana Batista, que teria iniciado o cultivo do alho através de “adubação com mufumbo moído à cacete”, informação esta trazida no folheto Memória de Santa Luzia de Mossoró. Já o historiador Câmara Cascudo aponta que o primeiro a cultivar alho no distrito foi João Batista, no sítio Gangorrinha. Por terem o mesmo sobrenome, Batista, não é descartada a possibilidade de João e Joana serem marido e esposa. Depois deles, vários outros passaram a cultivar alho, que era vendido para toda a região. Pela abundância da planta, o distrito passou a ser conhecido como a Capital do Alho, epíteto que mantém até hoje, apesar de não existir mais cultivo de alho em terras dix-septienses.

O distrito começa a se desenvolver mais rapidamente a partir do ano de 1913, quando foi construída a primeira indústria para exploração de gipsita (CaSO4.2H2O), minério abundante na região, conforme já se sabia desde 1853, através de estudos do médico Luiz Jacques Brunnet, grande pesquisador de história natural.

A iniciativa de construir a indústria de gipsita partiu do comerciante Manoel Joaquim, que propôs sociedade ao farmacêutico Jerônimo Rosado Maia, o patriarca dos Rosados. A exploração da gipsita foi continuada por três de seus 21 filhos: Duodécimo, Dix-sept e Vingt-un. Daí surgiu uma ligação muito forte entre o distrito e a família Rosado.

Após a criação da indústria de gipsita, o próximo grande evento foi a inauguração da estrada de ferro, em 1926, resultado da luta dos exploradores do minério, que buscavam escoar os produtos gerados pela exploração, como gesso e sulfato de cálcio. Neste ano, no dia 30 de setembro, houve uma viagem de trem histórica entre Mossoró e São Sebastião, com as principais autoridades de ambos os locais. O objetivo era celebrar a novidade. Consoante os moradores mais antigos, a viagem foi regada a muita cerveja e música. A Estação Ferroviária foi inaugurada no dia 01º de novembro daquele mesmo ano, oportunidade em que foi realizada mais uma grande festa.

No ano seguinte, o distrito foi vítima da ação do bando liderado pelo cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião. Os bandidos encontraram a localidade praticamente abandonada, ambiente propício para saques, roubos e atos de vandalismo. Raul Fernandes escreveu no seu livro “A Marcha de Lampião”, a descrição feita por uma testemunha dos acontecimentos: “Demônios entregues aos maiores desatinos, quebrando portas, espaldeirando quem encontravam, exigindo dinheiro, roubando tudo, numa fúria diabólica. A palavra de ordem era matar e roubar”.

O distrito passa a categoria de vila através do Decreto n.º 603, datado de outubro de 1938. A instalação da Vila de São Sebastião ocorre em 01º de janeiro de 1939. Em 1948 a vila muda de nome, passando a se chamar Sebastianópolis. Outra mudança de nome ocorre em 1951, quando a localidade passa se chamar Vila Gov. Dix-sept Rosado, uma homenagem ao então governador do estado, que havia falecido meses antes num acidente aéreo.

A vila enfim se torna município no ano de 1963, através da Lei n.º 2.878, assinada pelo governador Aluízio Alves (PSD). Na primeira eleição para prefeito, em 01º de dezembro daquele mesmo ano, sagra-se vencedor o farmacêutico Severino Ramos Vieira, apoiado pela família Rosado. Seu adversário foi João Nepomuceno da Silveira, que tinha o apoio de Aluízio Alves. Na sequencia, integrantes de várias famílias tradicionais exerceram a chefia do executivo municipal.

Nos últimos meses, o município perdeu boa parte de sua estrutura pública. Passou de Sede de Comarca para Comarca Agregada de Mossoró, através da Resolução n.º 33/2017-TJ-RN, o que resultou no fechamento do Fórum e da Promotoria de Justiça. Houve ainda o fechamento do Cartório Eleitoral, que passou a funcionar em Mossoró, tal se deu através da Resolução n.º 12/2017 – TRE-RN , que promoveu o rezoneamento eleitoral no Estado.

No âmbito cultural e geológico, o folclore local registra a “Lenda do Poço Feio”, que trata de uma sereia que habita a Gruta do Poço Feio, localizada na comunidade rural chamada “Sítio Bonito”, atualmente um ponto turístico do município que recebe muitos visitantes, especialmente das cidades vizinhas. Trata-se de um local com água límpida em meio a rochas, além de uma enigmática caverna calcária.

Governador Dix-sept, como é mais chamada, também tem suas inúmeras figuras populares, folclóricas, cujas histórias são contadas à exaustão nas rodas de conversas. Uma cidade que merece ser mais conhecida pelos potiguares e turistas de outros estados, especialmente por sua história e pelas riquezas naturais.

*Erasmo Carlos Firmino. Oficial de Justiça, bacharel em Direito, cidadão dix-septiense desde 04 de abril de 2007, administrador do blog www.tiocolorau.com.br.

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