Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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No início do Século XX, lá pelo ano de 1910, Assis Chateaubriand tinha 17 anos e iniciava sua vida jornalística como articulista de um pequeno jornal em Recife. Nesta mesma época, havia uma contenda de titãs envolvendo os escritores José Veríssimo e Sílvio Romero. Ambos inclusive escreveram livros unicamente para atacar o desafeto (sugiro até que comprem estes livros aqueles que gostam de atacar mas que não tem cacife).

Chatô, esperto desde menino, viu naquela contenda a oportunidade de levar seu nome para todo Brasil. Sua intenção era entrar na briga mesmo sem ser chamado e, uma vez brigando com um grande, poderia ter seu nome difundido quando da resposta do ofendido.

Com essa ideia, Chateaubriand publicou cinco longos artigos, no Jornal Pequeno, criticando o escritor Sílvio Romero. Os artigos foram transformados em um livro e este foi entregue anonimamente ao ofendido, no Rio de Janeiro.

Chatô então passou a esperar ansiosamente o revide de Sílvio Romero, o qual lhe traria fama e publicidade.

Grande foi a decepção do incipiente jornalista quando o revide veio apenas em duas linhas e ainda assim sem menção direta a qualquer nome. Escreveu sabiamente Sílvio Romero:

“Condeno-o ao perpétuo desprezo, que é o que merece a audácia de um aspirante da literatura. Jamais me ocuparei da sua pessoa ou de seus fracassados pendores críticos e literários”.

Assim, em duas linhas, Sílvio Romero revidou um livro inteiro.

Este foi o início, não exitoso, de Chateaubriand no jornalismo. Anos depois, contudo, ele se tornaria o maior jornalista do Brasil.

Trouxe este caso apenas para mostrar como a prática antiga de atacar pessoas mais qualificadas e de maior “audiência” com objetivo de ganhar visibilidade são usadas com freqüência até hoje.

Sabiamente faz quem age como Sílvio Romero.

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3 respostas

  1. “Perdoamos as crueldades, pois quem nos fere ainda acredita em nós; mas a indiferença…a indiferença é como o gelo dos pólos, mata tudo.” Marquesa d’Espard( Personagem de Ilusões Perdidas)

  2. Há também aqueles que fazem o inverso: elogiam (por meio de crônicas apologéticas etc) todos que estão, no momento, à luz da ribalta. Mesmo intento, atitudes diferentes. Um fato interessante: Aceita-se sem maiores questionamentos os elogios falsos de pessoas extremamente invejosas, “doidas” para lhe tomar o “brilho”.

  3. Colorau, na verdade Chatô foi o “maior empresário do jornalismo”, e não o maior “jornalista”, pois nesse último quesito, maior que ele tivemos muitos, felizmente.

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