Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Zona leste do país de Mossoró. O Ulrik Graff fica próximo talvez dos dois maiores centros educacionais da Terra de Santa Luzia, o IFRN e o cabaré do Birinight, permitindo assim como poucos bairros a mais completa união do ensino com a pesquisa e a extensão…

Se a historiografia raimundononatiana não mente, Ulrick Graff foi um grande e avermelhado empresário suíço que por aqui resolveu empreender no fim do século XIX, mexendo, entre outras coisas, com o comércio de couro. Aliás, de couro Maiara entende…

Natural de Severiano Melo, logo Maiara naturalizou-se quando comeu o primeiro cachorro-quente de garfo e faca no Sebosão depois de uma farra homérica com direito a vômito no banheiro do salão de festas do Garbos. Maiara morava sozinha num primeiro andar quarto-cozinha que ficava em cima de uma Herbalife e estudava Fisioterapia à noite na UNP, com bolsa de 50%. Sem querer aventurar um dos raros ônibus que pudesse leva-la até a João da Escóssia, Maiara todas as noites mandava um emoticon tristonho para um de seus colegas de classe e fazia um tácito pedido de carona.

De Severiano Melo, Maiara recebia uma feirinha da semana enviada por seus pais, os quais sofriam como se a filha tivesse sido enviada para a Guerra do Vietnã. Independente da temperatura do ventre, Maiara era estudiosa e preenchia cadernos e mais cadernos de anotações inúteis, como fazem os estudiosos.

Maiara era uma dessas mulheres que quando passam pela gente nada no mundo mais presta. Covinhas no rosto, pernas torneadas que davam súbita vontade de apalpar e, principalmente, uma forma tal de andar que ao cortar o vento com seu gingado produzia um curioso silvo. Era tão bela que sentíamos assim um misto de vontade de tê-la com um mero desejo de chorar abraçado a ela e lavar com lágrimas o insaciável desejo.

Os colegas de Maiara não conseguiram esconder o espanto quando foram fazer um trabalho em grupo e ao baterem na porta de seu quarto-cozinha se depararam com a própria vestida unicamente com uma fina calcinha de renda, num topless que exibia rijos seios maiores que as vagas reservadas por Silveirinha para os camelôs.

— O que foi? Um calor desse…

Mas a vida de Maiara iria mudar radicalmente no dia que recebeu um convite por WhatsApp de um conhecido empresário da cidade para tomar banho nas relaxantes piscinas do Hotel Thermas.

Poucos minutos depois ouviu-se uma buzina lá fora e Maiara já entrou no carro de biquíni, coberta unicamente por uma levíssima canga. O empresário não tinha aliança no dedo, tampouco andava com certidão de casamento debaixo do braço, de modo que Maiara também não iria cometer a indiscrição de lhe perguntar se era casado. A presunção é de inocência.

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Maiara engravidou do empresário. Àquela altura ela já morava em um apartamento na Nova Betânia e firmara contrato com um taxista para deixar e buscá-la na UNP. Tudo financiado pelo (in)FIES…

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A pedido do empresário, Maiara nunca publicou nada a ele referente em redes sociais, pelos menos não diretamente, já que não precisava ser um criptografo para notar que por detrás daquelas suas constantes citações de Caio Fernando Abreu havia caroço naquele angu.

Grávida e emotiva, Maiara obrigou o empresário a fazer um book da gestação no Memorial da Resistência. À revelia deste enviou inocentemente para a blogueira Karenine Fernandes uma das fotos, que foi publicada logo no dia seguinte com a legenda “vem herdeiro por aí!”. Tomando sol na área de lazer do Quintas do Lago, a esposa do empresário quase sofreu um colapso quando se deparou com a fatal imagem e só a muito custo conseguiu se arrastar até em casa.

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Ainda sem barriga, Maiara bebericava com um grupo de amigas no 27 Saideira quando um carro aparentemente desgovernado espatifou a mesa onde ela estava e por muito pouco não lhe matou junto com o feto. Era a esposa do empresário.

Tocado com o ocorrido, o empresário divorciou-se da esposa e levou Maiara e o recém-nascido para morar com ele no Quintas do Lago. A ex-mulher, sem condições de manter o mesmo padrão de vida, alugou um apartamento quarto-cozinha duas ruas antes do IFRN e virou “A Traída do Ulrick Graff. Maiara ganhou um quadro na TCM.

Leiam também, do mesmo autor:

A Patricinha da Nova Betânia aqui

A Comissionada da Prefeitura aqui

A Sonsa do Santa Delmira aqui

A Empresária do Alto do Sumaré aqui

A idealista do Alto de São Manoel aqui

A Bonitinha da Cobal aqui.

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*Samuel de Oliveira Paiva nasceu em 14/12/1992, é natural de Rafael Godeiro/RN. Bacharelando em Direito pela UERN, aprovado no XV Exame da OAB. Participou da coletânea “Poesia Clandestina Vol. I (2012)”, foi selecionado em concurso de contos promovido pela Big Time Editora, além de já ter contribuído com poesias, resenhas e contos para os jornais Clandestino, Gazeta do Oeste, O Mossoroense e revista Cruviana.

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