Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

Tio Colorau

Por Erasmo Firmino

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Em todas as turmas colegiais há o aluno chato – que geralmente é uma aluna -, que cobra do professor a aula até o fim do horário, que reclama dos colegas que estão conversando, que faz reclamações na diretoria, que alcagueta os colegas à supervisora etc. Aquela figura toda certinha que está sempre a postos para fazer uma reclamação ou exigir algo porque tem “direito”. Quando estudei no Ginásio Dom Bosco minha sala também tinha tal figura.

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Na semana passada eu estava numa sala de espera de um consultório médico, folheando uma revista antiga e surrada por tantos manuseios, quando uma mocinha de aproximadamente doze anos entrou e se acomodou na poltrona amarela de estilo “senta-e-afunda”. Dali a alguns instantes a atendente do médico aparece e então a mocinha se anuncia. A atendente, usando calça arrochada e se equilibrando numa sandália plataforma de salto altíssimo, diz que o profissional médico não mais irá atendê-la – a mocinha – pois ela havia chegado após os quinze minutos de tolerância, e que outra paciente já havia entrado, e que a consulta seria marcada para outro dia. Ato contínuo a atendente perguntou qual seria a melhor data, a mocinha respondeu que era melhor tratar com a mãe dela, que havia ido estacionar o veículo e que estava chegando. A atendente disse ok e sumiu no corredor.
A mãe entra na clínica.

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Lembra-se da aluna chata? pois é, era a mãe da mocinha.
Como eu tinha ouvido toda a conversa, e como conheço o temperamento da agora mãe, pensei comigo: “Vai ter briga”. Dito e feito.
A aluna chata, hoje mãe de família chata, disse que se atrasou por isso e aquilo, e que de outras vezes esperou mais de uma hora, e que não poderia faltar o emprego outro dia, e que e que e que.
Fui chamado – eu estava na fila para outro médico – e não pude ver o desfecho da conversa.

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Fazia 18 anos que eu não via aquela aluna, e notei que ela estava agindo do mesmo jeito que agia quando estudávamos juntos no Ginásio Dom Bosco. Conclui então que as pessoas não mudam, não adianta. Claro que há exceções, mas quando colegas se reunem para lembrar da época de aluno e comparar com os dias atuais, vê-se que o namorador continua namorador, o desmantelado continua desmantelado, o de temperamento difícil continua com o temperamento difícil, o gentil continua gentil e por aí vai.

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É muito difícil constatar uma mudança de comportamento. Para o filósofo Kwame Appiah, entretanto, as pessoas podem sim mudar. É o que ele defende no livro “Código de Honra: Como Ocorrem as Revoluções Morais”.
Não li a obra, vi apenas uma nota numa revista, o que me fez lembrar do episódio que ocorreu na semana passada.
A regra é não mudar, mas tal pode ocorrer com força de vontade e auxilio da psicologia e das religiões, mas as mudanças continuam sendo exceções. Já diz a sabedoria popular: pau que nasce torto morre torto.

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P.S. Espero que minha querida ex-colega não leia este post.

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Uma resposta

  1. Leitor, no embalo em que ia, tudo que não esperei foi o corte da cena. Em seu lugar, teria preterido o atendimento em prol de ver o desfecho, mas não o critico por isso; cada um sabe de si.

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